5 de abril de 2015

Protocolos para visitar a Coréia do Norte


Quando em Roma, faça como os romanos.

E quando na Coréia do Norte, faça como os locais também.

É preciso entender que os líderes (avô, pai e filho) são para o povo norte coreano como Deuses e que estão no poder pelo bem do país. Não há nada que possa ser mais ofensivo para eles que criticar os líderes. E neste contexto, você deve respeitá-los, tal como é natural para os ocidentais respeitar a rainha da Inglaterra. Faz parte do protocolo homenagear e saudar suas "figuras" (fotos, pinturas e estátuas). E estas figuras nunca podem ser fotografadas só "em parte": devem ser feitos registros "integrais" de suas imagens.

Cumprimentamos várias estátuas, conforme nos foi passado instruções. Também tivemos que comprar flores em alguns momentos para homenagear os líderes ou mártires. Cinco dólares o pequeno bouquet.

Segundo nos explicavam, devido a "alta capacidade intelectual dos líderes", estes fazem viagens pelo país, sempre sugerindo melhorias em todas as áreas (agrícola, elétrica, industrial, educacional, etc). E suas sugestões sempre trazem grandes retornos para a produção local, fato repetido por diversas pessoas na seguinte frase: "He gave guidance on the spot to bring us a better production, better result".

Para visitar o mausoléu dos 2 líderes anteriores Kim Il-sung e Kim Jong-il (avô e pai do atual líder Kim Jong-un) há muitas regras a serem observadas. O prédio é um dos maiores do país, e cada líder tem um enorme sala exclusiva, onde seus corpos repousam muito bem mumificados dentro de caixões de cristal no centro do grande salão.

É esperado que os visitantes vistam-se de forma elegante e formal, regra que não sabíamos. Muito decepcionados com as roupas que tínhamos disponíveis, nosso guia escolheu uma combinação de roupas muito incomum, tentando evitar os jeans, tênis e camisetas que tínhamos na mala. Eu fui de suéter, calça de trilha bege, meia branca e sapatilhas pretas (sapato que normalmente uso sem meias, mas meu guia disse que eu deveria cobrir totalmente os pés). Meu marido foi de camisa social, calça de moletom (eles acham isso mais adequado que uma sarja), e sapatênis.

Tivemos que esperar muito tempo para entrar, e dentro do prédio há enormes corredores com esteiras rolantes que demoram uma eternidade. Mesmo neste deslocamento, não podíamos nos encostar, colocar as mãos nos bolsos ou cruzar os braços. A instrução era: "Look smart".

Nas duas salas com os caixões de vidro, tínhamos que reverenciar os corpos dos líderes curvando-nos em suas direções. O cenário é tão surreal (a decoração, as filas longas, a forma como as pessoas reagem e até a música) que dá vontade de rir, mas não ousei fazer esta gafe. No entanto, quase não consegui me conter quando, no final do tour fúnebre, uma guia do local começou a contar as proezas dos líderes na forma de poesia, emocionando-se e caindo em choro com a história que deve contar dezenas e dezenas de vezes todos os dias. Ótima atriz!



A foto dos líderes é vista em todos os lugares: nas ruas,
dentro dos prédios e nos pingentes que todos usam em suas roupas.

Estação de metrô em Pyongyong.

Prédio onde repousam os corpos dos 2 líderes anteriores. Não é autorizado a fotografia dentro dele.

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