31 de março de 2015

Se você não é paranóico, vai ficar!


Sabe aquela idéia de que a Coréia do Norte vigia as pessoas o tempo todo? De que tudo é controlado e de que a veneração aos líderes é religiosa? Muitas coisas podem ser exagero, mas viajando pelo país eu comecei a ficar paranóica.

Os guias que acompanham o turista dão todo o tempero ao clima de espionagem (para começar, são sempre 2 guias que nunca trabalharam juntos, para se vigiarem mutuamente). Várias vezes, quando perguntávamos algo fora do esperado, a resposta, depois de longos minutos era "This is a secret.". Não tínhamos muita certeza se isso era uma piada ou se de fato os guias não tinham instruções de como responder a determinadas perguntas.

Um exemplo banal que ocorreu, foi quando perguntamos por que alguns carros tinham placas pretas e outro placas brancas. O guia não sabia se respondia ou não, então veio com esta bizarra resposta de que era um segredo. O toque especial é que ele realmente falava isso com cara séria. Não tinha um riso para relaxar ou para indicar que era piada. Mais tarde descobrimos por uma amiga que as placas com cores diferentes identificam se os carros são dos militares,  do governo ou de negócios.

Outras coisas estranhas aconteceram na viagem...

Logo que começamos a conhecer nossos guias, comentei que um amigo nosso tinha estado no país 6 meses antes e que tinha recomendado o turismo por lá. Prontamente, como se fosse a coisa mais normal do mundo, a guia puxou a foto deste amigo do bolso e começou a falar sobre ele e o grupo que ela tinha acompanhado. Medo! Ela já tinha uma ficha nossa com a conexão com nosso amigo!

Em outro momento, meu marido comentou comigo em português que suspeitava que ela estava com problemas de caspa, pois o cabelo estava cheio de "flocos" brancos. A guia, que a princípio só falava inglês (e muito mal), imediatamente passou a mão no cabelo, num claro reflexo de preocupação. Gelamos! Repetimos outro comentário deste tipo em outro dia e ela teve o mesmo reflexo.

Nossa primeira noite em Pyongyang foi em um enorme hotel, com diversos andares e centenas de quartos. Nada de especial, no entanto. Depois de retornarmos de um tour por outras cidades, onde ficamos vários dias, fomos colocados no mesmo hotel, mesmo andar e mesmo quarto!

Mesmo nos restaurantes, nossas mesas já estavam "escolhidas" e não podíamos mudar. No final da viagem eu já brincava com os guias que entendia ser difícil trocar as escutas de lugar.

Algumas vezes também nos esbarrávamos na enorme burocracia para andar algumas quadras em outra direção que não a planejada. Os guia precisavam fazer ligações, falavam sem parar, para então finalmente termos autorização para desviar a rota. Até para entrar num parque com quadras de esportes, tínhamos esta dificuldade. Nos explicaram que no caso daquele parque, era porque era uma área privada e teríamos que pagar a entrada. (!) "Mas isso aqui não é um país comunista!?"

E não se iluda ao achar que em meio às montanhas, numa remota trilha entre florestas e cachoeiras, você estará sozinho: do meio do nada, aparece um norte-coreano pedindo uns papeizinhos aos guias, como se fosse ticket de teatro.

Além disso, você anda pelo país e tem a sensação de que é invisível. Ninguém olha para você, ninguém fala com você. Só há interação com os seus guias e com alguns poucos que trabalham nas atrações turísticas. Há crianças que eventualmente expressam curiosidade, mas que rapidamente se controlam como os adultos. Isso me lembrou aquele episódio do "Homem Invisível" da séria "Além da Imaginação" da década de 80. Eu me sentia triste e depressiva com isso.


Episódio da série "Além da Imaginação": O homem invisível.


Meus queridos guias. Apesar da paranóia, eram boas pessoas e no final já faziam piadas conosco.

2 comentários:

  1. Carol, que chocante essa do guia tirando a foto do seu amigo do bolso! Muito medo!!

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    1. Verdade Ana! Muito louco isso não? A guia certamente fez de propósito para a gente ficar "esperto". hehehe

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