27 de outubro de 2012

Yazd


Placa de trânsito nos arredores de Yazd.
Yazd é talvez a cidade que mais caracteriza a imaginação dos que acham que os iranianos vivem ainda de forma primitiva, ou no mínimo, de forma exótica.
Nos arredores, com um pouco de sorte, é possível ver grupos de camelos sendo conduzidos por seus guardiões. Para os que não tiverem esta sorte e ainda assim quiserem um contato com o animal que mais simboliza a vida no deserto, é fácil conseguir um passeio turístico no lombo deste simpático animal. Mesmo para os iranianos, isso é uma grande atração turística, já que nas grandes cidades como Teerã, Esfahan e Shiraz, camelos só fazem parte da história antiga ou dos pratos de kebabs.

Há muitas atrações em Yazd, das quais eu destaco:

Cidade Antiga: uma das cidades mais antigas do mundo segundo a UNESCO (estima-se 7000 anos), é linda e misteriosa, com labirintos formados pelas casas de muros altos que protegem a privacidade das famílias (há cerca de 2000 casas da época Qajar). Estas casas escondem jardins internos lindos, com chafarizes e fachadas com arcos persas que levam aos quartos. Quando Marco Polo passou pela cidade no século 13, descreveu Yazd como "uma fina e esplêndida cidade e um grande centro comercial".

Torre do Silêncio: "cemitério" usado até 60 anos atrás pelos seguidores da religião Zoroastra. Os corpos eram deixados no topo da montanha para que os abutres comerem a carne. Os ossos posteriormente eram jogados no buraco central do topo da montanha e um ácido era jogado para terminar com os vestígios. Os Zoroastras acreditam que a putrefação dos corpos é prejudicial para o solo e para o lençol freático (o que de fato é verdade!), e por isso faziam este ritual que hoje é proibido.

Templo do fogo: Ateshkadeh (templo Zoroastra): uma linda casa para as celebrações zoroastras, onde há um fogo que dizem estar queimando desde o ano 470 D.C. A história de como teriam passado as gerações para manter o fogo é sensacional e há sempre um "guardião" do fogo responsável por colocar "lenha na fogueira".

Chak Chak: há mais ou menos 72 km de Yazd fica este importante local de perigrinação zoroastra. Trata-se de uma pequena caverna no alto de uma montanha (é preciso estar disposto a subi-la a pé) onde há uma goteira saindo por entre as rochas (o som dos pingos dá o nome do local: chak chak). Há uma lenda que durante a invasão árabe no ano de 637 D.C., uma importante princesa de nome Nikbanuh (seguidora do Zoroastrismo) escondeu-se neste local e "desapareceu" milagrosamente por entre as rochas da caverna. Fora as lendas, a montanha em si é bonita e proporciona uma linda vista para o vale desértico.

Kharanaq: Considerado um dos sítios/ cidades mais antigos do mundo. Acredita-se que a região foi ocupada há mais de 4000 anos e que as construções que hoje permanecem devem ter pelo menos 1000 anos. No local, há um minarete que balança: com sorte você poderá subir até o topo para balançá-lo (um guardião abre a porta do local mediante uma pequena contribuição). Infelizmente pouca restauração está sendo feita em Kharanaq e os poucos turistas que por lá aparecem, nem sempre demonstram respeito e cuidado com as construções. Caso nada seja feito em curto prazo, é certo que este patrimônio em breve não existirá, pois as casas, feitas de barro, não resistirão ao tempo e ao vandalismo.

Caso de pombos: Construída para proteger (dos predadores naturais) e centralizar milhares de pombos, este local tinha como utilidade a coleta das fezes para a fertilização das lavouras. Hoje as entradas para os seres voadores (no topo da torre) foi bloqueada com telas e o local está "limpo" para a visita dos turistas.

Casa de gelo: fantástica invenção dos antigos persas para terem refrescos no escaldante verão da região. Na parte de fora da casa de gelo, há pequenas "piscinas", rasas e retangulares, para a formação de blocos de gelo durante o inverno. Os blocos eram então levados para dentro da casa de gelo, que em seu interior possui um grande buraco côncavo (o teto é de mesmo formato). Após todo o buraco estar preenchido com os blocos, cobria-se o grande tesouro de gelo com feno e selava-se a casa. No verão, finalmente a casa era reaberta para prover gelo para a comunidade.

As atrações não param por aqui e naturalmente há ainda muitas mesquitas, casas antigas e caravanserais a serem visitados. Definitivamente uma cidade encantadora e única no Irã e na história das civilizações.

KHARANAQ - acredita-se ser uma das cidades mais antigas do mundo. Hoje ela não é mais habitada.


MEYBOD fica a 52 km de Yazd. É onde se visita a casa de gelo, casa dos pombos, caravanserais e o castelo Narein do período Sassanida (a foto é do topo do castelo).


Perder-se nos labirintos de Yazd é uma das atrações da cidade!

Casa para fazer gelo

Torre do Silêncio

Torre do silêncio - buraco central no topo da montanha. Os corpos eram espalhados circularmente: no circulo exterior os homens, depois as mulheres e finalmente no círculo interior as crianças.

Fogo eterno dos Zoroastras



Casa de pombos.

Portas de Yazd. O som da batida do trinco da esquerda avisa que um homem está chegando. O da direita (circular), uma mulher.

20 de outubro de 2012

Vou-me embora pra Pasárgada



Pasárgada tornou-se famosa no Brasil através de um dos poemas de Manuel Bandeira.
O que poucos sabem, é que refere-se a uma antiquíssima cidade da Pérsia, esta, que hoje, tem poucas pedras para contar história. O povo que ali viveu era reinado por Ciro II, que após sua morte, deixou o reino para Dario, o Grande. Este, por sua vez, construiu um novo reino: Persépolis. Deste reino ainda há muito a se ver e quem visita Pasárgada obrigatoriamente vai a Persépolis para apreciar o grande sítio arqueológico que ainda resiste ao tempo (veja mais na postagem: Persépolis - a jóia da Pérsia).
Ambas cidades são patrimônio da UNESCO e ficam há apenas 1 hora de distância entre si. Em um único dia é possível visitá-las a partir da cidade de Shiraz, ao sul do Irã.


Túmulo de Ciro em feriado de ano novo Persa: movimento atípico para o resto do ano.

Ruínas de Paságada.

Ruínas de Pasárgada.

Ruínas de Pasárgada.



Vou-me embora pra Pasárgada

Manuel Bandeira
Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconsequente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d’água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar
E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.

Para entender o poema com análise literária, recomendo o texto deste blog: http://nelsonsouzza.blogspot.com/2010/12/vou-me-embora-pra-pasargada-manuel.html

13 de outubro de 2012

Salões de Beleza no Irã


Com tantas mulheres maquiadas, com cabelos pintados e unhas vermelhas, perguntava-me de início onde estas iranianas faziam estes serviços. Seriam tias que tinham dotes especiais? Ou faziam elas mesmos?

A pergunta não é estranha para um país com pessoas que não sabem me responder ao certo se salões de beleza são ou não são autorizados. Na dúvida, salões de beleza em Teerã operam em grande parte na clandestinidade. Pouquíssimos colocam placas de propaganda, tentando assim evitar confusão com a polícia de costumes.

Morando mais tempo no Irã e conhecendo amigas locais, um novo universo abriu-se: há muito salões de beleza em Teerã e alguns são um show a parte! A estrutura e atendimento é feito para você passar o dia neles. Há jardins internos, restaurante e para cada serviço um atendimento personalizado. Aquela cena de você estar fazendo o cabelo e ter uma pedicure e uma manicure grudadas em você simultaneamente não existe. Para cada serviço, um horário específico, regado a muito chá (cortesia da casa) e fofocas.

Quando fui a primeira vez em um dos grandes salões de beleza perto de casa, estranhei quando o taxista parou em frente a uma casa feia, quase sem janelas e aparentemente abandonada. Confirmando o endereço, desci e toquei a campainha que também possuía uma câmera anexo. A porta então se abriu e uma senhora loiríssima veio me receber com um inglês bem americano. Era mais uma das muitas iranianas com green card, que vive a vida metade no Irã (ganhando o seu dinheiro) e outra nos EUA (gastando o dinheiro). Ela então me levou para fazer um tour nos 2 andares do salão. No primeiro andar: recepção, cafeteria, manicure e cabeleireiro. Já no segundo andar: massagem e depilação. Os produtos? Todos franceses! E os preços também (manicure e pedicure por quase 50 dólares)!

Após frequentar este e outros salões descubro curiosidades sobre as iranianas e novas diferenças culturais.
Por exemplo, elas gostam de deixar as unhas dos pés compridas! Para não ter que discutir com a pedicure todas as vezes, passei a cortar minhas unhas antes de ir ao salão. Outra diferença é a depilação: iranianas depilam TUDO! Tudo mesmo! Até os mais simples pelinhos nos braços! Descobri mais tarde que a orientação está na própria religião, onde há a orientação para que mulheres, depois de casadas, depilem-se a cada 20 dias e homens (sim! Eles também!) a cada 40 dias. Claro que ninguém lembra a orientação religiosa na prática da depilação: virou costume.

Tatuagens são muito usadas para obterem um visual 100% maquiadas dia e noite. Iranianas gostam de tatuar sobrancelhas, contorno dos olhos e da boca. Algumas ficam bastante estranhas, pelo exagero misturado a plásticas e botóx (muito popular na república islâmica).

Para fazer as sobrancelha a técnica é sempre a de linha, muito comum no oriente médio. A habilidade e rapidez delas neste serviço impressiona. No Brasil é uma técnica caríssima, mas no Irã por 1 ou 2 reais você já paga a depilação do buço. Iranianas também gostam da sobrancelha mais curta nas extremidades, e se possível tiram toda a parte que começa a declinar nas laterais. As mais exageradas, repintam a parte que declinava, mas em um ângulo que levante ainda mais a linha da sobrancelha. O resultado é uma expressão facial mais má, como se estivessem sempre com o semblante contrariado.

Luzes e louros são a moda das que querem parecer modernas. Tive problemas sérios para convencer a cabeleireira a fazer luzes discretas, pois a moda local é aparecer: ninguém deve ter dúvidas que você pintou os cabelos e quanto mais dourado melhor.



Porta de acesso ao Salão de Beleza.


Fachada feia, mas por dentro, moderno e limpo





6 de outubro de 2012

Coisas que só o Irã faz por você! :-)


Diferenças culturais podem ser encontradas nos mais diversos segmentos.
Aqui tenho um bom exemplo de um produto de sucesso no Irã, mas que provavelmente seria um fracasso no Brasil... Afinal, quem teria coragem de passar nos cabelos produtos a base de alho?!
Bom, talvez eu esteja enganada, pois não faz muito tempo no Brasil era moda passar xampu de cavalo... Dizem até que alho faz bem para o crescimento capilar. Vai saber!
;-)

Embalagem de uma das marcas dos famosos xampu de alho!

Outdoor em grandes avenidas com propaganda do xampu!

Estátua com um xampu de alho em 3D!

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