9 de fevereiro de 2013

A ilha golfinho



Qeshm (ou na pronúncia em farsi: "rechm"), é a maior ilha do Golfo Pérsico, localizada no estreito de Ormuz e pertencente ao Irã. Possui 135 quilômetros de comprimento e tem um formato bastante peculiar e apropriado: parece um golfinho!


São tantos golfinhos na ilha de Qeshm que o barqueiro fica perdido sem saber que grupo destes mamíferos seguir.


A ilha é pouco conhecida dos estrangeiros e é bom que continue assim. Patrimônio natural da UNESCO (ver site aqui), a ilha é rica em atrações naturais, culturais e gastronômicas. Em 2006, Qeshm foi declarada pela UNESCO um Geopark (geoparque), uma denominação para áreas geológicas com especial característica científica e beleza. Pouquíssimos parques no mundo possuem esta classificação.

A etnia predominante em Qeshm é árabe (e não persa como a maioria do território iraniano) e segue a vertente sunita do islamismo. A cor da pele dos moradores da ilha é bem mais escura, e alguns são notadamente descendentes de africanos (no passado, o Irã trazia escravos da África, principalmente da ilha de Zanzibar, na Tanzânia). As roupas também distinguem-se do resto do país: os homens com longas roupas brancas e lenço na cabeça, e as mulheres com chador mais colorido e máscaras na face.

A comida é claramente uma mistura das navegações intercontinentais, tradição milenar na ilha. Muita canela, cravo da índia, cominho, pimenta compõem o tempero dos pratos a base de frutos do mar. Em Qeshm é possível encontrar polvo e outros animais marinhos na culinária, já que os sunitas não têm restrições religiosas (os xiitas não podem comer peixes que não tenham escamas, por exemplo). Comi refeições deliciosas, como uma que era uma espécie de "carreteiro de peixe": arroz, peixe, batatas, cenoura, uva passas, cravo da India e bolinhas de pimentas não moídas, compunham o prato que tinha uma coloração avermelhada, provavelmente de outros temperos que não identifiquei. Muito bom!

Arquitetura e história também se espalham pela ilha. Uma ruina a ser visitada é um antigo castelo português, dos tempos das navegações. Vilas espalham-se pela ilha e moradores afirmam distinguir pelo sotaque de cada um, de que vilarejo vem a pessoa. Várias construções são bastante curiosas: por todos os lados, mesmo em lugares desabitados, encontramos uma espécie de "iglu" de tijolos. Esta estranha arquitetura abriga a maior preciosidade dos habitantes: água potável captada da chuva. Para apreciadores da engenhosidade dos persas, ainda temos para observar as torres de vento nas residências: enormes "chaminés" que servem para fazer o vento esfriar e circular nas casas. O acabamento destas torres é mais beleza a ser contemplada.

Ademais, as belezas naturais da ilha são uma grande lista a ser feita: manguezais navegáveis, desertos, cânions esculpidos pelos ventos e chuvas, cavernas de terra e de sal (a maior do mundo com 6,8 km), pássaros, golfinhos, peixes e tartarugas são as atrações principais. Há uma ONG só para cuidar das tartarugas que se reproduzem na ilha. Hoje, os moradores são proibidos de comer os ovos das tartarugas (uma prática antiga na ilha). No entanto, se provado que o morador possui alguma doença específica, poderá receber alguns ovos para sua dieta e cura, disse-me uma atuante da ONG que também confessou ter comido ovos de tartaruga a vida inteira até o ano de 2003, quando então entrou na instituição.




Char Kuh Canion

Tentando subir no alto do Star Valley: o riso é de medo!

Iranianas posam comigo para foto.

Culinária de Qeshm: arroz, peixe, uva passas e especiarias.

Dizem que no passado, haviam 365 depósitos de água nesta vila (buracos destacados no chão):
um para cada dia do ano. 

Vista de uma das vilas da ilha. As torres de vento destacam-se no cenário.

As torres de vento são "ar condicionados" naturais para as casas.
Além disso, cada torre tem acabamentos distintos um do outro.

Depósitos de água espalhados pela ilha captam e mantêm a água das chuvas para os habitantes.

Tradição comum para as noivas (que pintam pés e mãos completamente), a arte da henna em Qeshm provavelmente foi trazida das Índias.

Na tradição da ilha, mulher casada deve usar máscara.






5 comentários:

  1. Sensacional! Tá aí um dos lugares do Irã que mais adoraria conhecer! O povo parece bem alegre e caloroso né? Interessante, eu não sabia dessa diferença do conceito de alimentos halal entre muçulmanos xiitas e sunitas...
    Parabéns pelas fotos riquíssimas que ilustram um Irã diferente do que imaginamos!

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    1. Obrigada Janaina.
      Como em todo o Irã, o povo em Qeshm é muito caloroso!
      :-)

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  2. Beleza de relato, Caroline. Dá vontade de conhecer.

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    1. Obrigada Iracema! O local é realmente lindo e imperdível para quem gosta de natureza. :-)

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  3. Incluido no roteiro! Obrigada por indicar Carol!!
    Beijos! :*

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